domingo, 29 de março de 2009

O príncipe se foi

Na última vez em que se viram, ela não se incomodou com a roupa que ele estava usando. Ela nem sequer olhou o que ele estava vestindo.
Ela não fixou o olhar nos olhos coloridos dele. Ela nem percebeu que ainda havia diferença entre eles.
Não prestou atenção na marca de expressão do rosto dele. Ela não reparou como essa marca o deixa com cara de mais velho.
Não se encantou com todas as cores da barba dele. Ela não percebeu se ele estava de barba ou não.
Também não observou o desenho das sombrancelhas dele, nem se lembrou de como gostava de olhar o perfil dele, com o nariz bem retinho.
Não achou graça no jeito engraçado que ele tem de andar, nem nas histórias milaborantes que ele contou.
Nem sem importou que ele estivesse com sono enquanto ela contava alguma coisa. Nem com o cheiro da cerveja que ele tinha tomado antes de se encontrarem.

E aconteceu o que ela finalmente esperava. Não sentiu falta de tudo aquilo que se foi montado no cavalo branco.

sábado, 28 de março de 2009

Plenitude

Deve ser normal ter medo de viver de verdade. Viver de forma intensa, sentir de forma intensa.
Mas não acho certo viver pela metade. Obviamente, sendo assim, há o poupamento de um milhão de coisas ruins, de experiências ruins, de sofrimento.
Que bom seria se fossem só as coisas ruins. Mas não. Viver pela metade significa deixar as chances de ser feliz correrem para o ralo.

Viva plenamente.

quinta-feira, 26 de março de 2009

There are times

to hold open a door,
to surrender your seat.
to thank someone, in writing.
to let bygones be gone
to remember your parents.
to listen with care.
to surprise with a gift.
to mind your tabble manners.
to honor tradition.
to give voice to your heart.

from: all stripes

quarta-feira, 25 de março de 2009

ânsia

Ela acordou num pulo, depois de uma noite difícil, onde os pensamentos não paravam de atormentar sua cabeça. O que falaria? O que contaria? Tinha novas histórias (engraçadas, de preferência) para contar?

Começou a se lembrar dos fatos que tenha vivido nos últimos dias. Pensou em alguns enfeites para deixá-los mais interessantes. Passou o dia elaborando tudo isso enquanto treinava caras e bocas no espelho, penteava o cabelo e fazia a maquiagem.

Mas, a roupa que estava estendida em sua cama foi atirada no chão assim que o relógio marcou 23 horas. Os assuntos se tornaram ridículos, a maquiagem se borrou com as lágrimas e a roupa de cama foi a única que a abraçou.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ladrão de sentimentos

Ele era uma pessoa insensível.
A insensibilidade dele era capaz de destruir o mundo de alguém.
E ela, toda fragilizada, sempre, foi a escolhida da vez.
Entregou todo o sentimento, toda a sua verdade para ele.
E ele era tão, mas tão sem sentimentos, que não mediu esforços para sugar toda a alegria e felicidade dela e jogar fora.
E ele conseguiu. E seguiu intocável.
Quando ela estava quase bem, quase deixando tudo isso passar, ele veio de novo.
Roubou a esperança dela, jogou no lixo e se foi novamente.

domingo, 22 de março de 2009

Paciência é uma falácia

Paciência é uma virtude.
Adriana não tem paciência.
Portanto, Adriana é desvirtuada.


Em Filosofia isso se chama falácia. No incrível mundo de Adriana, verdade.
Admiro o ato nobre de quem consegue ser paciente. Como é difícil! Isso envolve muito mais que calma, auto controle e razão.
Envolve o meu sono, a minha concentração e o meu relógio. Cada segundo parece uma eternidade. Mas uma hora, aquilo pelo que tanto se espera, se alcança.

Ou não.

O pior de tudo é perder o sono, a calma, a razão e todo o resto... E mesmo assim ter que esperar para nada acontecer.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Hoje, não!

Por esse dia está tão irritante?

Por que algumas palavras tiveram o dom de me irritar?
Por que aquele jogo de palavras teve tanto significado pra mim?
Por que a minha primeira matéria assinada teve o dom de me deixar triste?
Cada letra escrita, cada sílaba pronunciada, cada verso lido.

Hoje, eu queria ser cega e analfabeta.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Angústia

Hoje eu vi um cachorro morto na rua. Estava no carro e ele estava caído no canteiro central da avenida. O vento batia no pelo dele e nenhum havia movimento além dos carros passando. Um aperto no coração. Coloquei a mão na boca e falei: “Ele está morto”.
Em segundos aquela imagem sumiu da minha cabeça, o susto também e, de repente, eu me senti mal. Sim, pelo cachorro. Mas não por ele estar morto. Mas por ele ser um cachorro e ter despertado aquela angústia em mim.
Todos os dias eu vejo velhos, crianças e mulheres jogados em canteiros centrais, debaixo de viadutos, em uma esquina qualquer. Eles também estão mortos. Com a esperança morta, a alegria morta e a vida morta. E não despertam metade daquilo que o cachorro despertou em mim.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Beleza exterior

Às vezes tenho a impressão de que ninguém me vê. Isso é diferente de achar que ninguém me olha. Não. Ninguém me vê.
Há algum tempo comecei a achar feio achar as pessoas feias. Cada um tem a sua beleza. Aquele olho amarelo. Os cílios mais curvados. O nariz pequenino. As mãos delicadas. Um sorriso belo. Uma sobrancelha expressiva. Todo mundo tem algo de belo. Podem não se encaixar no conjunto, mas são bonitos.
Estava achando meu cabelo horrível. E ele estava mesmo. Descuidado. E hoje recebi um elogio. Que corte lindo, que cores lindas!
Hoje, alguém me viu. Alguém me olhou. E não foi o conjunto. Foi algo de belo em mim.

domingo, 15 de março de 2009

Um beijo roubado

Como você se lembra de mim?

Como a garota que escolheu frango com legumes no primeiro encontro
ou como a garota com o coração partido?


Adaptado do filme.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Sabe quando você quer tanto uma coisa, que já não a quer mais?

Isso me aconteceu quando eu era criança, com nove ou dez anos. Eu morava em um apartamento pequeno e dividia o quarto (como sempre) com as minhas irmãs. Uma mais nova e outra mais velha. O espaço nunca era meu. Nunca tive nada só meu.

O sótão seria o lugar perfeito pra mim. E eu assistia àquele filme, “O garoto que sabia voar”. Ele se fechava em um sótão lindo, cheio de mistérios e aquilo me encantava. Ele tinha uma janela redonda, de vidro que deveria ter uma vista linda.

O fato é que eu nunca teria um sótão. Logo mudamos para outro apartamento – sem sótão, claro. E eu continuei a dividir o quarto.

Já não queria mais o sótão. E guardei esse desejo tão lá no fundo que acabei esquecendo.
Mas, ele sempre esteve guardado.

Ainda está.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Êta mundão



Eu chamo de crueldade. Outras pessoas chamam de coincidência. E ainda existem as que chamam de destino.
Mas eu prefiro continuar a chamar de crueldade.
Por que esse mundo dá voltas em torno do mesmo eixo?

terça-feira, 10 de março de 2009

Foto 3x4

Tem dias em que eu acordo linda. Mesmo. Dias raros no quais eu sairia de casa sem um pingo de maquiagem, sem pentear o cabelo e sem colocar aquela combinação de roupa que me deixa bacana.
Hoje não é um desses dias. Mulheres têm essa vantagem: se acordam feias, dá-lhe bolsa de gelo no rosto para desinchar, aquele corretivo amigão, blush, rímel e dá pra enganar. O cabelo te odeia? Prende, põe grampo, faixa, lenço, chapinha, escova.. Qualquer coisa.
Definitivamente hoje eu acordei feia, não fiz nada para parecer bonita e ainda tirei foto 3x4.

domingo, 8 de março de 2009

Eternal Sunshine of a Spotless Mind

Joel: I really should go.
Clementine: So go.
J: I did. I thought maybe you were a nut. But you were exciting.
C: I wish you'd stay.
J: I wish I'd stay too. Now I wish I'd stayed. I wish I'd done a lot of things. I wish I had... I wish I'd stayed too. I do.
C: I came back down and you were gone.
J: I walked out. I walked out the door.
C: Why?
J: I don't know. I felt like a scared little kid. It was above my head.
C: You were scared?
J: Yeah. I thought you knew that about me. I ran back to the bonfire, trying to out run my humiliation, I think.
C: Was it something I said?
J: Yeah. You said "so go" with such a disdain, you know?
C: I'm sorry.
J: It's ok.
C: Joely. What if you stayed this time?
J: I walked out the door. There's no memory left.
C: Come back and make up a goodbye, at least. Bye, Joel.
J: I love you.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Se lembra?

Quando você apareceu, dividiu comigo a alegria e o humor
Ouviu o meu choro e disse para eu não me abalar, que a vida é assim
Observou cada gesto meu e ria das besteiras que eu fazia
Até bronca me deu, se lembra?

Eu fico me perguntando se você se lembra do que eu me lembro.
Você se lembra?

Eu me lembro do dia que você se foi e levou a minha alegria
Quando eu chorei, você não me ouviu, mas eu aprendi que a vida é assim
Não me viu dormir, não me viu rir com o mesmo humor, não me viu mais
Lembro da bronca que eu iria te dar se tudo voltasse a ser como era antes.

Mas, dessa eu me esqueci.


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Com o oferecimento de: Clube do Nojinho, sociedade nada anônima, de utilidade pública, para contar causos em que o bode não é um simples bode... É UM REBANHO!

quarta-feira, 4 de março de 2009

O que não vivi

Tenho saudades dos jogos que não joguei, do sentimento que não senti, do bolo que não comi
Tenho saudades das viajens que eu não fiz, dos lugares que não estive, das pessoas que não conheci
Tenho saudades das músicas que não cantei, do jeito que não dancei, das festas que não fui

Tenho saudades de tudo que eu não fiz
Tenho saudades de tudo que eu não quis

Tenho saudades de quem não ficou.


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Com o oferecimento de: Clube do Nojinho, sociedade nada anônima, de utilidade pública, para contar causos em que o bode não é um simples bode... É UM REBANHO!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Estar feliz: condição temporal

Felicidade não é um estado de espírito. É um estado de momento.

Para alguns são raros, para outros nem tanto. Mas, desconfie de quem lança aos quatro ventos que é feliz. Ser feliz é diferente de ser alegre. Diferente de ser engraçado. Diferente de sorrir o tempo todo. Desconfie.

Qual seria a graça da felicidade se ela finalmente fosse alcançada permanentemente?

Ela é um estado de momento. As pessoas têm momentos felizes e isso não tem nada a ver com a grandiosidade desse momento.

Estar com os amigos pode ser um momento feliz. Estar sozinho também.
Comer um banquete delicioso pode trazer a felicidade momentânea. Simplesmente ter o que comer hoje também é.
Correr por aí e sentir o vento no rosto é uma felicidade inexplicável. Conseguir dar o primeiro passo, também.
Chegar do trabalho super cansado e descalçar os pés é a felicidade daquele momento. Ter um trabalho e um sapato para calçar também.

Poderia ficar uma vida falando de momentos felizes.
Porém, a minha felicidade nesse momento é conseguir enxergar que existe felicidade para uns e outros. Não importa quão grande, quão simples, quão sofrida ela possa ser.

Estar feliz é um estado de momento.